Poema I: A Vila de Aço




A noite é muda, mas escuta muito bem
Na Vila de aço até o vento grita
A gente não entende ao certo
Mas eu sei que ele pede por socorro
E um pouco de perdão

A vila chafurda em meio o chorume e o caos
Por lá se cria a escória do mundo

A vila dos restos, dos deuses do Olimpo
Com seus castelos de classe média
E saneamento básico

Aqui a vida é um alimento
A morte também, tudo é podre
O chão é podre, o ar é podre
E os corvos reinam, sobre o lixo

Com sede de sangue
E fome de desgraça
Tudo é ruína
Dos sonhos de quem já nem sabe o que é sonhar
Aqui vive quem não é bem vindo em nenhum outro lugar
Os páreas e os lazarentos

Aqui o medo de viver pra sempre é maior
Para os pobres e os viciados
As putas e os desajustados
Os poetas bêbados e inconformados
No fim do mundo e nem na metade do inferno
  
Zé, apenas um garoto
Apenas Zé
Sem face e sem gosto
Sem paladar, sabor
Sem lado oposto e amor
Desamparado
Apenas mais um Zé

Apenas mais um que se cansou
Que se retirou
Levando no peito angústia e fé

Eu poderia dizer que ele só foi ver se o mundo era grande
Mas ele foi mesmo é ver se o mundo tinha jeito

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