A noite é muda, mas escuta
muito bem
Na Vila de aço até o vento grita
A gente não entende ao certo
Mas eu sei que ele pede por socorro
E um pouco de perdão
A vila chafurda em meio o chorume e o
caos
Por lá se cria a escória do mundo
A vila dos restos, dos deuses
do Olimpo
Com seus castelos de classe média
E saneamento básico
Aqui a vida é um alimento
A morte também, tudo é podre
O chão é podre, o ar é podre
E os corvos reinam, sobre o lixo
Com sede de sangue
E fome de desgraça
Tudo é ruína
Dos sonhos de quem já nem sabe o que
é sonhar
Aqui vive quem não é bem vindo em
nenhum outro lugar
Os páreas e os lazarentos
Aqui o medo de viver pra sempre é
maior
Para os pobres e os viciados
As putas e os desajustados
Os poetas bêbados e inconformados
No fim do mundo e nem na metade do
inferno
Zé, apenas um garoto
Apenas Zé
Sem face e sem gosto
Sem paladar, sabor
Sem lado oposto e amor
Desamparado
Apenas mais um Zé
Apenas mais um que se cansou
Que se retirou
Levando no peito angústia e fé
Eu poderia dizer que ele só foi ver
se o mundo era grande
Mas ele foi mesmo é ver se o mundo
tinha jeito
Nenhum comentário:
Postar um comentário