Poema V: O louco



Zé cruzava as rodovias como um encouraçado
Eis que surgiu o louco
De terno e um livro com capa de couro em baixo do braço

Zé já havia lido muitos livros
Pela vontade de saber aprendeu o que pode sozinho
É incrível se pensar, cada coisa que as pessoas jogam no lixo

O louco pregava no caos
Dizendo coisas, as quais era melhor fazer que dizer
Misericórdia, caridade, amor...

Por que o faz, se ninguém o ouve?

Estou pregando no deserto
As pessoas que passam por aqui
Empanturradas de vida
Estão desertas de amor
Desertaram de seus sonhos
Estão tão cheios de si mesmos
Que não param para dar ouvido aos loucos
Os seus peitos estão cheios de medo e rancor
Eles não sabem para onde vão
Só sabem que será um inferno
Eles não sabem o que fazem
E parece que nunca saberão ao certo


Todo louco é meio sábio
Mas ser sábio não é ser dono de verdade
Você está aqui
Tentando domar dragões com palavras
Você diz que essas pessoas não têm amor
Se elas não tivessem amor não teriam medo
Se elas não tivessem amor não teriam pressa

O amor move a vida humana
De formas tão estranhas
Que até parece que não há

Mas ele esta bem ali
O amor é o descontrole
É um fardo de mais para um homem suportar
E é por isso que eles enlouquecem
E morrem loucos sem nunca despertar

Não me prove com sua falsa sabedoria

Pobre homem louco
Seu livro esta repleto de respostas
E seu coração de duvidas
Que eternamente serão negadas

O verdadeiro sábio não responde
Ele pergunta
Santo não é quem prova o milagre
Mas quem o agradece e ainda assim duvida


Zé simplesmente o deixou com essas palavras

Ela sabia que dois loucos jamais concordariam em nada

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