Poema III: Madalena



Ela atravessou pela luz
E a única cor que Zé viu foi o vermelho daqueles lábios
A sua silhueta entorpecia os fótons que bailavam ao redor de seu corpo
Embalado hermeticamente pela elegância da noite e suas lendas

Zé levantou-se
Caminhou até sua Vênus para contemplar toda sua beleza
Mas o que encontrou foi uma tela triste em uma moldura de carnaval
Zé era ingênuo, mas conhecia os olhos de quem tem medo nessa vida


Do que tem medo?
Qual é o seu inferno?
Desculpe sei que não te conheço
Mas queria saber o que dá à beleza dos seus olhos
O direito de chorar


Eu me chamo madalena
Sou garota de programa
Choro pois hoje minha filha me pediu uma boneca
E lembrei que nem pude ser criança
Eu não quero essa vida para ela um dia
Espero que continue como esta
Por mais que eu tenha algumas lembranças a chorar
Que por muito as bonecas sejam de plástico
E um dia o amor seja real

A vida realmente cobra muito de alguns
Talvez ela saiba quem é forte o bastante
Mas isso não torna as coisas mais justas
Pois a noite abriga muitos outros Zé’s

E muitas outras Putas

Nenhum comentário:

Postar um comentário