Poema IX: O relicário



Mas Olivia apressou-se em se despedir
Disse que tinha um teste importante para fazer
Zé estava hipnotizado, completamente torpor
Por fim não descobriu telefone ou sobrenome
Somente Olivia e mais nada, nada além do amor

Quando Zé voltou a si, ela já havia partido
Mas não importa o seu rosto ainda estampava o sorriso
Zé sabia que no fundo não precisava se preocupar
Não é questão de destino, mas o caos iria os reencontrar

Zé partiu feliz em meio ao inferno que são os outros
Eis que depois de inúmeras quadras, algo lhe chamou a atenção
Uma loja, com um letreiro todo enferrujado, em uma velha construção

Zé adentrou, todo maltrapilho com seu velho violão
Um velho de aparecia sofrível lhe chamou a atenção

Posso lhe ajudar?

Zé estava maravilhado com aquela desequilibrada organização
Aquele monte de coisas velhas, e coloridas enfileiradas
O cheiro la dentro era diferente
Era como se ele tivesse histórias para contar
Zé apenas perguntou instintivamente, sem muito pensar

O senhor pode me arrumar um trabalho?

O velho sorriu gentilmente

Sou um velho colecionador
Os negócios não vão bem
Não teria como pagar seu salário
Mas agradeço o interesse

Eu trabalho de graça
Basta o senhor me dar teto e comida
E me ensinar tudo o que poder
Sobre todas essas coisas
Sobre todas as histórias que elas têm a contar

Outro sorriso gentil

Tudo bem jovem
Mas sempre que puder lhe pagarei
É bom ter companhia para variar

Muitas pessoas pensam
Que tudo isso não passa de lixo
Elas julgam estas coisas pelas aparências
Por sua ferrugem, mas se elas pudessem ver
Se pudessem ver a própria ferrugem
Perceberiam que não se trata de uma doença
Mas sim da morte e o tempo se apoderando do passado
Em todos os dias que já vivemos estamos mortos
Não podemos mais fazer nada por eles
E pouca ferrugem nos corrói
Se essas pessoas percebessem isso
Notariam que toda essa ferrugem aqui
Reluz muito mais que todo o ouro

Vai ver que pouca ferrugem nos mata
Por que não temos muita pátina

E então um longo e alto sorriso gentil

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