Depois de tanto caminhar
Zé chegou a uma vila pobre
Casas velhas e remendadas
Crianças correndo descalças nas ruas de
terra
O sorriso da inocência
Nunca da atenção aos aspectos da miséria
Ele avistou um velho sob a sombra de uma
macieira
O velho empunhava um violão
E seu olhar pairava sereno entre o ar, e o
momento
Zé aproximou-se e pode notar que era um
homem cego
Ele ficou quieto enquanto o homem dedilhava
Os mais belos arpejos e acordes que podiam
ser ouvido s
Eis que o cego deixou a pausa perdurar
A música é a verdade garoto
Ela nos diz a nós mesmos quem somos
É como a respiração do nosso ser
Eu não te vejo, mas sei que está ai
Calmo, jovem, cheio de vontade de viver
Veio de longe, mas é como se fosse
sempre daqui
A sua respiração ainda que ofegante,
transmite paz
Que bela canção seus sentimentos criariam
Meu nome não é importante
Lembre-se eu sou a musica que acabou de
ouvir
Ela é sobre minha vida, mesmo sem uma
palavra dita
Ela começa agitada e confusa, e brilha
como o sol estival
Ai no meio, ela vai se repetindo
Se perdendo em uma mesmice confortável
Antes do fim ela bota tudo a perder
E soa grave como a dor de um gigante que
não sou
Mas no fim ela está morna e preparada
para acabar
Apenas se perguntando se foi ouvida por
quem deveria ser
Se, viveu pelo que deveria viver
Se, cumpriu o seu papel
Se, tinha um papel a cumprir
Não me interessa seu nome
Como é sua musica garoto?
Eu não sei
Mas acho que a
minha musica
É do tipo que
caminha sã
Procurando pela loucura
Tentando ver a
beleza
Enquanto ela se
esconde entre o medo das pessoas
Acho que minha
musica procura perder a vergonha
Encontrar a
felicidade e matá-la
Para que as pessoas
vivam em paz
Sem uma obsessão
por algo que não compete a vida
Acho que a minha
musica procura se perder
E encontrar-se
totalmente diferente do que era
E dizer olha só
você ai, por onde andou?
Eu te esperei a
cada segundo
Enquanto deixava de
ser você
A minha musica
procura pela vida
Pela própria vida
Pela própria musica
Quanto tempo pretende perder por aqui?
Quero lhe ajudar a encontrar-se
Para mim o tempo é
outro ser
Ele não me pertence
Ficarei aqui até
ter aprendido
A mostrar a face da
vida de volta pra ela
O tempo não devia
ter tanto a ver com a vida das pessoas
Elas acham que o
tempo é o remédio para suas dores
Mas eu o vejo como
uma enorme ferida
Engolindo todas as
cicatrizes
Zé passou meses por lá
Aprendendo transformar a vida em musica
Embora a vida já seja uma
Zé partiu quando o tempo
Engoliu todas as cicatrizes do velho
cego
Zé não chorou
Ele lembrou que no fim da musica
A pausa perdurava
Não ache que é
prepotência minha
Mas eu sou quem
deveria ter ouvido sua musica
Sua vida cumpriu o
que tinha pra cumprir
Ainda que vida
alguma tenha compromisso
Agora eu farei
minha própria musica
Mas a sua jamais
será perdida
O tempo é meio cruel
Por isso não me
alio a ele
Esteja bem onde
estiver
Ou esteja bem mesmo
sem estar
E partiu novamente
Levando consigo o velho violão
E mais uma nova forma de ver a vida
E uma nova forma de transmiti-la
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