Poema VII: Cidade cinza e a flor


O céu era cinza
As pessoas não se distinguiam
E o som dos passos curtos
Era a pura disritmia
Eufórica em busca da vida
Não encontrando absolutamente nada
Em cada e toda esquina

Zé passava batido com seu violão
Sem ouvir em meio aos ruídos
Um único som
Sem ver em meio ao verniz
Uma única cor
Sem sentir em meio a fumaça
Um único sabor
Sem presenciar em meio o caos
Uma única alma
Só a desgraça regrada
Só a complacência desfigurada
E o descaso em cada olhar calado

Nos becos a vida morria
Mas ninguém via os becos
Nas janelas as flores morriam
Mas ninguém via as janelas
Como o ar que morria
Sem ninguém vê-lo
Mas todos sentiam o ar
Todos sentiam a morte
Mas a morte já era rotina
Já era encarte
Já era plástico
A morte já era de praxe
Já era moda da estação
Já era prático

Zé olhava ao alto
Tentando encontrar algo
Em algum espaço aéreo ainda inabitado
Quando então, algo o levou ao chão
Era alguém e Zé estendeu o braço

Não olha por onde anda?
Tanta gente e você olhando o céu
Vai acabar sendo atropelado
Veio de onde, assim todo sujo?
E esse violão, você é musico?
Qual o seu problema vai ficar calado?
...

Ela não calava a boca
Era a forma definitiva da vida louca
Que germina em vias mortas
Mas que mesmo assim além de flor
Obrigava-se a ser rosa
Por que o esplendor é capricho
Mas um pouco de admiração
Sempre importa

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