Poema IV: O paraíso entre dois infernos




Os desgraçados atravessaram a noite
Partilhando a dor e a coragem
Entre um programa e outro

Engraçado, você também sabe o que é sofrer
Mas seus olhos não se amarguraram como os meus
Os seus sonhos não cheiram a cigarro

Zé tinha os olhos calmos e compreensivos
E não era o desespero que tirava o pavor para dançar
E sim a esperança, uma esperança em luto
Mas ainda assim esperança

Eu vou conhecer o mundo Madalena
Andarei até minhas pernas decorarem o caminho da vida

Adoraria ter a sua coragem
Mas o meu medo já não reage
Apenas me empurra para frente
Mais um dia, é assim que a vida deve continuar

Mas eu quero lhe dar algo antes do sol nascer
O meu amor que nunca foi de ninguém
Não estou pedindo para me amar
Seus olhos são doces e merecem outro alguém
Mas está noite meu amor será seu
Muitos tiveram meu corpo
Mas os meus sonhos, quero que leve junto de você

Naquele fim de madrugada
Em um beco desabitado
Os infernos se cruzavam nus
E abraçavam-se frente os braços dos anjos
Que se debruçavam sobre o muro do beco

A falta de saída agora era o horizonte vasto
E o suor e a carne, os lábios, a vida
Tolos os que dizem que o amor é pecado
O amor não é o fruto proibido
Mas sim a raiz mais profunda de todo o paraíso

Na manhã seguinte, cada um seguiu seu caminho
está ainda não é a história de amor
E mais uma vez Zé partiu sozinho

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